Alfredo da Rocha Vianna Filho - PIXINGUINHA

Patrono - Cadeira: 87


Nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897. Instrumentista, compositor, orquestrador e maestro. Sua vasta obra musical abrange gêneros como valsa, polca, jazz, maxixe, samba e, sobretudo, o choro. É reconhecido como talentoso compositor e flautista e pela genialidade em sua criatividade e interpretação. 

Aprende a tocar cavaquinho aos 11 anos. Sua infância é ambientada numa casa comumente entoada por rodas de choro, pois seu pai é um hábil flautista e seus irmãos também são músicos. Sua formação inclui o estudo formal da música, o que lhe possibilita ler e escrever partituras. 

Aos 14 anos, participa da orquestra do rancho carnavalesco Filhas da Jardineira e conhece os compositores Donga (1890-1974) e João da Baiana (1887-1974), parceiros importantes em toda a sua trajetória. Ainda na adolescência, toca em cabarés do bairro boêmio da Lapa e na orquestra do Cine-Teatro Rio Branco. Em 1914, edita sua primeira composição, “Dominante”, e passa a integrar o Grupo do Caxangá. Ainda jovem, frequenta a casa da baiana tia Ciata, um dos pontos de encontro de músicos e intelectuais, e um dos lugares de gestação do samba no Rio de Janeiro no início do século XX. 

Em 1917, o grupo Choro do Pixinguinha grava duas composições do músico: o choro “Sofres porque Queres” e a valsa “Rosa”. Em 1918, ele organiza com Donga o conjunto musical Oito Batutas, uma pequena orquestra para a sala de espera do Cine Palais, no centro elegante da belle époque carioca. O repertório de maxixes, canções sertanejas, batuques, cateretês e choros é inovador porque, até então, as orquestras de cinema apresentam a chamada música fina: valsas vienenses e tangos. Anunciado como a única orquestra que fala alto ao coração brasileiro, Oito Batutas se torna a atração da casa.

A obra do compositor se consolida como uma das mais importantes matrizes da música popular brasileira por introduzir elementos das músicas afro-brasileira e rural nos arranjos dos chorões e contribuir para diversificar o gênero com um tom particularmente brasileiro, como no caso da composição “Os Oito Batutas” (1919). 

Entre 1919 e 1921, com a supervisão do maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o grupo viaja por diversas capitais do Brasil, e cabe a Pixinguinha pesquisar o folclore musical desses lugares, movimento inserido num contexto de intenso debate sobre a identidade nacional. 

A turnê celebra o sucesso do grupo entre o público brasileiro e, em 1922, repete o êxito em Buenos Aires e no Dancing Shéhérazade, de Paris. O grupo é aplaudido com entusiasmo também pelo público francês. 

A marca do jazz no trabalho de Pixinguinha é notável. Ele tem contato direto com essa musicalidade por meio dos shows das jazz-bands americanas a que assiste nas casas de espetáculos em Paris. Na volta ao Brasil, em agosto de 1922, grava dois foxtrotes de sua autoria: “Ipiranga” e “Dançando”. Em 1923, o Oito Batutas se recompõe com o nome de Bi-Orquestra os Batutas.

Ainda na década de 1920, Pixinguinha compõe e faz arranjos para o teatro de revista, como a peça Tudo Preto, produzida por João Cândido Ferreira (1887-1956) e encenada pela Companhia Negra de Revista no Rio de Janeiro. A peça é reeditada em setembro de 1926 com o nome Preto no Branco.

A partir de 1928, logo após a implantação da gravação elétrica no Brasil, o músico trabalha como orquestrador na indústria fonográfica, sobretudo para o selo Odeon. As partituras de Pixinguinha inovam no desenho harmônico, melódico ou rítmico, por inserirem uma marca de brasilidade, característica de seus arranjos, em um contexto no qual os arranjadores seguem, em geral, a escola italiana.

Nos anos 1930, torna-se funcionário da prefeitura e leciona música em escolas cariocas. Grava diversos discos como instrumentista e músicas de sua autoria. Em 1933, obtém certificado no curso de teoria musical no Instituto Nacional de Música, o que lhe garante amplo acesso ao universo da música erudita, bem como ao conhecimento do código formal da linguagem musical. Disso resulta a qualidade artística de seu trabalho como orquestrador. Em 1937, duas composições suas atingem grande sucesso de público na voz de Orlando Silva (1915-1978): “Rosa” e “Carinhoso”. 

Faz sua última gravação como flautista em 1942, num disco com dois choros de sua autoria: “Chorei” e “Os Cinco Companheiros”, e passa a tocar saxofone. A mudança propõe um estilo mais identificado com os novos tempos, ou seja, o jazz. Tanto os arranjos quanto o timbre do sax dão uma coloração mais moderna à sonoridade do grupo. A nova fase de Pixinguinha inclui dezenas de registros em disco com o flautista Benedito Lacerda (1903-1958). Nessas gravações, a criatividade de Pixinguinha destaca-se nos contrapontos que ele desenvolve no sax tenor, como resposta às melodias executadas na flauta por Lacerda. 

Nessa época, participa do programa O Pessoal da Velha Guarda (1947-1952), do radialista Almirante (1908-1980). Em 1955, lança o LP Carnaval da Velha Guarda, com a participação de seus músicos e do Almirante. No início dos anos 1960, cria a trilha sonora do filme Sol sobre a Lama, dirigido por Alex Viany (1918-1992) e lançado em 1963. 

Privilegiando a atmosfera nacional, a obra de Pixinguinha, tributária do contexto sociocultural de sua trajetória e por inserir uma marca de brasilidade em suas composições, deixa uma importante contribuição na orquestração e na música popular brasileira da primeira metade do século XX. Faleceu em 17 de fevereiro de 1973 na cidade do Rio de Janeiro.