Carlos Drummond de Andrade
Patrono - Cadeira: 57
Nasceu na cidade de Itabira do Mato Dentro (MG), em 31 de outubro
de 1902. Filho de pais ricos, estudou em colégios internos durante a infância e
chegou a ser expulso de uma das instituições por insubordinação a um professor
de português.
Na juventude, o escritor se formou farmacêutico pela
Universidade Federal de Minas Gerais por vontade do pai. Ele não chegou a atuar
na profissão, e acabou dando aulas de português e geografia e trabalhando como
tradutor de títulos de autores como Bertolt Brecht e Federico García Lorca.
Ainda na época da faculdade, Drummond conheceu jovens que
tinham pensamentos um pouco diferentes dos dele. Como seu pai era coronel, o
autor cresceu em uma família conservadora e tinha ideias político-sociais mais
alinhadas à direita. Contudo, quando se tornou universitário conheceu pessoas
de realidades diferentes e foi transformando sua visão de mundo.
Juntamente com os novos amigos, o autor criou uma publicação
chamada A Revista, que tinha o intuito de divulgar o Modernismo brasileiro.
Dentre os co-fundadores do periódico estava Emílio Moura, outro escritor que
foi importante para a disseminação da literatura mineira pelo país.
Foi também nesta época, em 1925, que se casou com Dolores
Dutra, com quem teria dois filhos: Carlos Flávio e Maria Julieta. O
primogênito, entretanto, viveu apenas 30 minutos, sendo homenageado pelo pai em
um de seus poemas mais tocantes, O Que Viveu Meia Hora.
Não muito depois de formado, Drummond começou a trabalhar
como redator-chefe no jornal Diário de Minas. À época, ele já produzia
literatura e em 1930 publicou Alguma Poesia, seu primeiro livro. O
próprio autor pagou pela primeira tiragem da obra, que contou com apenas 500
exemplares.
Em 1934, o mineiro se mudou com a família para o Rio de
Janeiro, onde começou a trabalhar como chefe de gabinete do então ministro da
educação, Gustavo Capanema. Segundo os biógrafos de Drummond, esse período foi
essencial na vida do autor, pois fez com que ele observasse o governo de outra
perspectiva e mudasse suas opiniões políticas.
Pouco mais de uma década depois ele largou o cargo e passou
a escrever para diversos periódicos e se tornou editor do jornal Imprensa
Popular, lançado pelo Partido Comunista Brasileiro. Nessa época ele já havia
lançado outros livros que o consagraram, como Sentimento do Mundo (1940)
e Rosa do Povo (1945).
Sua poesia o tornou um dos maiores poetas brasileiros de
todos os tempos. “Drummond não ganhou fama por causa do povo, mas porque foi
exaltado pelos intelectuais e por movimentos culturais populares, como a
tropicália e a bossa nova, por exemplo”, explica Celso Cavicchia, professor de
professor de literatura formado em letras pela USP, em entrevista à GALILEU.
Durante sua carreira, Drummond recebeu diversos prêmios e
foi um dos únicos escritores brasileiros que conseguiu viver da própria
literatura, ou seja, recebia o suficiente por suas publicações para não
precisar ter trabalhos paralelos.
Em 1987, sua filha faleceu por conta de um câncer, o que,
segundo o escritor, o fez “perder o sentido da vida”. Apenas 12 dias após o
enterro de Maria Julieta, Drummond sofreu um infarto e morreu, deixando como
legado poemas que intrigam e apaixonam leitores em todo o mundo.
O Modernismo foi fundado por grandes nomes da arte
brasileira, como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, durante a Semana de
Arte Moderna de 1922, realizada no Theatro Municipal de São Paulo.
Inicialmente, o movimento focou na ruptura da arte do Brasil com as influências
do exterior, principalmente as produções europeias. Para os artistas, era
preciso criar uma identidade brasileira — o que era feito de forma quase
ufanista e revolucionária.
O mineiro, entretanto, entrou em cena apenas na 2ª fase
do Modernismo, que durou de 1930 até 1945. Nessa época, os artistas já
haviam amadurecido os ideais do movimento e podiam focar em outros temas, como
o regionalismo, a mistura de diversos tipos de arte e a construção de algo
totalmente brasileiro, características presentes no trabalho de Drummond.
Os poemas nacionalistas do autor foram celebradas por grande
parte dos intelectuais da época, mas não agradou todo o público. Isso porque o
país vivia um momento de tensão política: após a Revolução de 1930, que colocou
a nação sob o comando do gaúcho Getúlio Vargas, o Brasil sofreu um
“autogolpe” em 1937 que instaurou uma ditadura até 1945.
Como em toda a ditadura, manifestações contra o governo eram
proibidas — e é justamente isso que Drummond estava fazendo em suas
publicações. Entretanto, diferente do alagoano Graciliano Ramos, o autor
não era tão explícito em seus textos, o que de certa forma o “livrava da
censura”.
“Há teóricos que dizem que toda ditadura é ‘burra’, e
Drummond sabia disso. Ele não foi perseguido porque não assumiu suas crenças
políticas e escreveu de forma difícil”, explicou Cavicchia. “O governo não o
censurava porque ou não entendia sua literatura, ou não achava que o povo iria
entender.”
Drummond também presenciou o Golpe Militar de 1964 e os
problemas que ocorreram com o Brasil nesse período. À época ele também produziu
diversas obras famosas, como Claro Enigma (1951) e Boitempo (1968).
No mundo, a obra de Drummond também ficou conhecida, pois
retratou poeticamente sentimentos inerentes a diversas sociedades — ainda mais
considerando o cenário internacional daquele período. Desde a Crise de 1929,
passando pela Segunda Guerra Mundial e chegando à Guerra Fria,
os escritos do mineiro representaram também acontecimentos globais, o que o
tornou ainda mais popular.
O que sempre foi muito presente em seus textos é uma postura
irreverente e crítica ao mundo que está ao seu redor. Outro fator típico
drummondiano é o uso de de metáforas para descrever sentimentos e situações que
poderiam ser explicadas de formas mais “fáceis”. O que muita gente não sabe é
que Drummond também escreveu prosa, tanto em textos jornalísticos quanto em
crônicas. Entretanto, para os especialistas, é justamente o modo diferente e
poético que usou para retratar o mundo em seus poemas que o tornou o maior
expoente da poesia modernista — e brasileira.
A obra do mineiro é tão vasta que estudiosos separam sua
produção em fases, tal como aconteceu em movimentos literários, como o Romantismo.
No caso de Drummond, a maior parte dos especialistas aponta a existência de
quatro fases literárias, mas há quem defenda a existência de cinco períodos de
escrita.
A 1ª fase drummondiana, ou a fase “gauche”, ocorreu nos
anos 1930. Características marcantes são o uso da ironia, o coloquialismo, os
versos livres, a concisão e o uso do humor como forma de criticar e descrever
determinadas situações.
Outro ponto essencial dos poemas dessa época é o “gauchísmo”.
“Gauche”, em francês, significa “esquerda”. Mas o termo não está relacionado
apenas às crenças políticas do literário. Outros aspectos que fazem parte do
conceito são o pessimismo, o isolamento, a reflexão existencial e a dificuldade
de se comunicar com o que está ao seu redor.
A 2ª fase drummondiana, ou a fase social, ocorreu entre
1940 e 1945. Suas características marcantes são o engajamento político, os
questionamentos sociais, a metalinguagem (poema sobre o próprio poema), o uso
de formas livres e a introdução de poemas com estruturas tradicionais.
A 3ª fase drummondiana, ou fase do “não”, ocorreu nas
décadas de 1950 e 1960. Naquele período, o autor escreveu poemas mais eruditos
e complexos, que exploravam questões filosóficas e existenciais, tais como a
memória, a morte e o tempo. Além disso, é possível notar uma valorização do formato
do texto: são utilizados recursos fônicos e visuais que proporcionam uma
experiência quase sinestésica.
A 4ª fase drummondiana, ou fase da memória, ocorreu nas
décadas de 1970 e 1980. Aqui houve um resgate do humor e da ironia, mas dessa
vez isso está associado ao concretismo contemporâneo. A investigação social e
os dilemas da existência continuam presentes e o universo da memória é
amplamente explorado: Drummond escreve muito sobre sua infância e sua terra
natal, Itabira (MG).
A 5ª fase drummondiana, ou fase erótica, ocorreu no fim
da vida do autor e não tem um período delimitado, pois poucos especialistas
defendem essa parte da produção literária do mineiro como uma fase de fato.
Entretanto, quem acredita nesse período, aponta o erotismo e os textos curtos
como características dos poemas.