Geraldo Clarimundo da Costa
Patrono - Cadeira: 31
Nasceu em Ituiutaba, MG, em 28 de agosto de 1923 e faleceu em 30 de abril de 1988. Seus pais: Marciano Silvestre da Costa e Maria Francisca da Costa. É o quinto filho de uma família de onze irmãos, sendo Adila Francisca da Costa a única viva até hoje, é casada e reside em Ituiutaba.
Geraldo Clarimundo sempre residiu em Ituiutaba. De início trabalhava em fazendas deste município, trabalhou como peão-de-boiadeiro levando gado para o estado de São Paulo. Casou-se aos 22 anos em 14 de outubro de 1945, com Dulcinéia Luis Cassiano, tiveram oito filhos e hoje sete estão vivos. Em sua trajetória de vida exerceu várias atividades. Por mais de 20 anos foi leiteiro, vendia leite para crianças e depois vendia para os filhos destas mesmas crianças depois de adultos e casados. Por isso tinha o apelido de Geraldo Leiteiro. Sempre preocupado com a pobreza e a miséria ajudava várias família doando leite. Com a “novidade” do leite pasteurizado e industrializado, voltou a morar e trabalhar em fazendas cultivando a terra. Seus filhos maiores e em idade escolar ficavam na cidade, trabalhando e estudando. Foi um período muito complicado de sua vida, pois investiu suas poucas economias no trabalho árduo da lavoura e só teve prejuízos.
Mesmo assim Geraldo não desistiu de trabalhar a terra, mudou-se para uma fazenda e no município de Caçu, estado de Goiás. Por lá trabalhou cerca de três anos. Regressando para Ituiutaba por sua habilidade com plantas tornou-se funcionário da Prefeitura Municipal de Ituiutaba como jardineiro, atuando em várias praças de nossa cidade. Mesmo com todas as dificuldades financeiras e no trabalho, sempre se preocupou com a educação de seus filhos, dedicando-lhes vários momentos de sua vida, estimulando e orientando-os, proporcionando-lhes momentos de lazer, mostrando sempre seu amor e respeito pela natureza. Estendendo também um carinho enorme aos seus irmãos, sobrinhos, tios, primos e verdadeiras amizades cultivadas ao longo de sua vida, que para nós resultou numa imensa família.
Teve sempre uma vida ativa junto à igreja e à sociedade em geral. As congadas chegaram em nosso município junto com seus primeiros habitantes, movimento este que se encontrava desativado no final da década de 40. Levado por seu irmão moçambiqueiro “nato” Demétrio Silva da Costa, seu pai Marciano Silvestre e sua prima Ana Carolina Ribeiro dirigiram-se ao pároco da época Padre João Ave, solicitando o reinício do movimento das congadas em nossa cidade, tiveram como resposta um sonoro “não”. Alegando que os negros que se ocupavam deste movimento não seguiam a religião católica, não tinham organização, pois não cumpriam horários e nem o que era combinado com o mesmo. Mas, eles não desistiram. Assessorados por outras pessoas insistiram com o vigário, no sentido de reorganizar as congadas e construir uma capela para São Benedito. Pe. João Ave consentiu no retorno das congadas, junto à Igreja, desde que seguissem suas orientações como Diretor Espiritual. O terno de Moçambique “Camisa Rosa” iniciou seus trabalhos em 1951, cujos trajes iniciais eram totalmente brancos da cabeça ( com turbante branco) aos pés (sandálias brancas). Muitas famílias somaram-se para que este terno desenvolvesse suas atividades. Para que a congada continuasse o Pároco Pe. João Avi exigiu a preparação de doze homens responsáveis aos quais ele mesmo chamava de “doze apóstolos”
Esses homens tinham que ser preferencialmente casados, batizados e praticar a fé católica com largo espírito de caridade e solidariedade. Deveriam participar de todas as atividades da Igreja que na época eram muitas, pois todos as ações católicas do ano eram feitas na Igreja Matriz de São José que era a única paróquia da cidade. Onde praticamente concentravam-se todas as festas religiosas. Trabalhavam na limpeza da Igreja principalmente em sua parte exterior ora capinando, ora montando e desmontando as estruturas de madeira para as grandes festividades que eram realizadas no pátio da antiga paróquia.
Em 1954 Geraldo Clarimundo criou seu terno de Congo “Camisa Verde”. E as reuniões para a regularização da Irmandade aconteciam toda segunda feira após a Missa no Salão dos Marianos na Rua 20 com a Avenida 7.
Apenas em maio de 1957, deu-se a fundação da Irmandade de São Benedito e depois desta data é que os ternos congos tiveram permissão para entrar na Igreja adorar o Sacrário e venerar São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Pois até então os ternos de congadas não tinham permissão para entrar na Igreja. Pois os congadeiros tocando seus tambores com suas cantorias chegavam até à porta da Igreja onde deixavam seus instrumentos, era permitido entrar apenas os adultos para as cerimônias religiosas. Às crianças eram delegadas as funções de guardiãs dos instrumentos e das bandeiras.
Geraldo Clarimundo tornou-se o primeiro presidente da Irmandade de São Benedito desde sua fundação em 1957 e exerceu este mesmo cargo ininterruptamente até o ano de 1988 por ocasião de seu falecimento.
Junto às atividades desenvolvidas no terno de Congo “Camisa Verde” no qual era o “dono” e Primeiro Capitão Geraldo executou várias ações. Entre elas era treinador de um time de futebol que reunia várias crianças e jovens residentes no Bairro Progresso e arredores. Além das instruções esportistas, era torcedor fanático da Associação Esportiva Ituiutabana (Véia), do Santos Futebol Clube e grande admirador de Édson Arantes do Nascimento (Pelé) em clima de harmonia, apesar de seu pouco estudo era profundo conhecedor da Palavra de Deus e conhecedor da vida de São Benedito dava verdadeiras “aulas” de fé, amor, perdão, paciência, amizade, paz e humildade.
Fatos que muito abalaram Geraldo foram as perdas de seu pai Marciano em 1958, de seu irmão Demétrio (Zizico) em 1964 e seu quarto filho em 1972. Outras perdas também não deixaram de ser marcantes. Mas, mesmo assim ele desenvolvia suas ações inspiradas na fé de seu Padroeiro São Benedito. Fazia anualmente a “coleta” para o Natal dos Pobres pedindo donativos por várias ruas de nossa cidade aos sons dos tambores da congada e sua cantoria.
Muito preocupado com o envolvimento da comunidade negra e a política incentivou vários amigos “estudados” a participar ativamente da vida política de nosso município, mostrando a necessidade de filiação a partidária e concorrência a cargos públicos. Incentivou e consegui a eleição do primeiro vereador negro de Ituiutaba: Sebastião Francisco da Silva (Satipo). Incentivou também as candidaturas de vereador Luziano Justino Dias, Rui Costa e outros.
Durante 37 anos organizou e realizou as grandes festas anuais em louvor a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, com retidão e transparecia em suas ações, pois nos dias atuais os filhos dos benfeitores que o auxiliavam por ocasião dos festejos de São Benedito continuam a ajudar nos dias atuais. Trabalhou sempre de acordo com as orientações da Igreja, tendo facilidade de convivência com todos os Padres que sempre se revezam nos trabalhos das Paróquias.
Geraldo estava constantemente em busca de novos conhecimentos, participando ativamente em Congressos e Encontros Culturais na capital mineira nas cidades da região em São Paulo e sul de Goiás. Ao longo do ano participava em várias cidades dos Festejos de Congadas de S. Benedito e N. S. do Rosário, para as quais sempre era convidado.
Geraldo participou ativamente da fundação e manutenção do Palmeira Clube de nossa cidade, clube este era exclusivamente voltado para as ações sociais da Comunidade Negra, foi membro atuante de sua diretoria na promoção de grandiosos bailes, encontros culturais, campeonatos de futebol etc.
Foi com seu total apoio que sua filha mais velha Divina Costa Teles deu início aos trabalhos do Grupo de Estudos e Consciência Negra de Ituiutaba que foi fundamental para a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de Ituiutaba e da atual Fundação Municipal Zumbi de Palmares que tem desenvolvido várias ações para maior inserção do negro na sociedade na universidade e conseqüentemente no mercado de trabalho.
Em 1987, entusiasmado com as atividades relacionadas ao “Centenário da Abolição da Escravatura, Geraldo projetou o I° Encontro Regional de Congos, Moçambiques, Marujos e Catupés de Ituiutaba. Para isto, viajou por várias cidades da região contatando prefeitos, secretários de educação e cultura para que os mesmos propiciassem representatividade de vários grupos de congadas nesse Primeiro Encontro de nossa cidade. Deixando tudo organizado, veio a falecer em 30 de abril de 1988. Nesta época já contávamos com quatro ternos de congadas: Moçambique “Camisa Rosa”, Congo “Camisa Verde”, Moçambique “Estrela D’alva e terno de Congo “Real”.
Nós como seus herdeiros realizamos com toda dedicação que fomos capaz, este primeiro encontro idealizado por Geraldo. Este legado que ele deixou a seus descendentes e famílias amigas que é a direção da Irmandade de São Benedito e o Terno de Congo “Camisa Verde”, hoje com cerca de 150 elementos trouxe para as nossas vidas a certeza da existência de um Deus misericordioso que nos indica o caminho a seguir.
Neste ano de 2006 realizamos com satisfação o XIIX Encontro Regional de Congos, Moçambiques, Marujos e Catupés de Ituiutaba juntamente com a tradicional Festa em louvor a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, seguindo os caminhos traçados por Geraldo.
Geraldo Clarimundo por ocasião de seu falecimento em 1988 deixou viúva Dona Dulcinéia que conduziu com sabedoria os destinos do terno de Congo “Camisa Verde” e com muita alegria administrava a cozinha da Festa. Faleceu em 11 de agosto de 1995.
Hoje somos sete irmãos: Divina Costa Teles, Maria Francisca Luiza da Costa, Paulo Marciano da Costa, Juliomar da Costa, Ana Lucia da Costa, Marciana Lúcia da Costa Souza e Moisés Divino da Costa que se multiplicam para administrar com organização esse legado deixado por nosso pai. São treze netos e treze bisnetos. Nos sentimos muito orgulhosos quando encontramos alguns de seus amigos e nos conta quem foi Geraldo Clarimundo da Costa, pessoa de caráter, transmitia fé e humildade a todos que o cercavam. Isto nos orgulha muito, e para nós profunda saudade.