Agesípolis Fernandes Maciel

Patrono - Cadeira: 15

Agesípolis nasceu em Uberaba, MG, no dia 14 de julho de 1913, filho de Cândido Fernandes Maciel e Josina Maria dos Santos. Foi casado com Auristelina da Costa Maciel de família ituiutabana, com quem teve 5 filhos: Ignez, Iara, Ilca, Roberto Maciel (já falecido) e Ronald Costa Maciel. Transferiu-se para Ituiutaba em 1937 onde foi funcionário público, bancário, professor. Foi ainda, 1.º Diretor do Colégio Estadual de Ituiutaba, vereador e presidente da Câmara Municipal, presidente do Sindicato Rural e da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba. Recebeu o título de Cidadão Honorário de Ituiutaba por ter sido sempre atuante e presente nos acontecimentos políticos e sociais,num trabalho de dedicação e amor à comunidade. Durante muitos anos suas crônicas foram publicadas em jornais de Uberaba e Ituiutaba. Publicou FALANDO DE SAUDADES (1993) e COLCHA DE RETALHOS (1995) e participou de ANTOLOGIAS DE ”ESCRITORES DO BRASIL”, de Aparício Fernandes de Oliveira. Foi acadêmico da ALAMI e hoje é patrono da cadeira de n.º 15, ocupada pelo acadêmico Professor José Maria Franco de Assis
Passatempos preferidos: pescaria , jogo de truco, muita leitura.
Um perfil do escritor em palavras tiradas de seus escritos:
Realização: A publicação de “Falando de Saudade” e “Colcha de Retalhos” onde emergem “vivências e costumes , hábitos e valores, tradição e cultura e onde nosso coração bate no mesmo compasso do dos personagens , homens e animais”.
Vida: “Insatisfações , pesares , algumas lembranças indeléveis de momentos felizes. Pouco desfrutei deles , quase ignorados. Os quadros da infância me aparecem mais vivos. E a imaginação, possivelmente por força do outono, os conserva com tinta forte , destacando-se de tudo mais , ofuscando a beleza de tantas outras emoções mais caras , sem que eu saiba por quê.”
Saudade: “A noite passada eu tive um sonho agradável. Realmente, acordei mais leve e disse para mim mesmo, lavei a alma, matando tanta saudade, eu que de saudade vivo”. (Desfilam por esse conto, muitos amigos já falecidos).
Filosofia de vida: “Agir sem vaidade, sempre o mesmo, autêntico, ainda quando esse nosso comportamento desagrada a outros, mas pautando as nossas decisões de acordo com a nossa consciência, que deve ser sempre o maior e melhor juiz de nossa consciência . É salutar quando isso acontece e estamos em paz com os nossos mais legítimos anseios.”
Momentos: “Há momentos na vida da gente, em que, ante a interpelação inconveniente , a voz do silêncio diz mais que tudo que se possa responder .”
Escrever para quê? Para quem?: “Escrevo para quem? Para os filhos, os netos? Para desafogar o coração, que envelhecido, recordando, tenta mitigar saudades
da melhor época da vida ? Quem sabe procurando uma reafirmação, até um misto de satisfação e vaidade, coisa a que também estou sujeito como todos os seres humanos?”
Sonho:
“Também sigo, como o carreiro,
Pela vida, muito indeciso
Vagando à noite e o dia inteiro
Procurando o que idealizo.
Ouço ao longe uma toada,
Uma voz doce , muito amiga ...
Corro afoito... e não vejo nada
No deserto de minha vida .” 

Amor: “ Era uma vez um amor quase impossível. As coisas puras e boas são fugazes e se esvaem como flocos de espuma tão branca, de formas indefinidas que se volatilizam, deixando-nos somente a lembrança de sua presença Não é bonito, meu Deus? É algo incontido , transbordante mas em surdina , que vive mais no marulhar das águas , no romance dos pássaros , no voejar das borboletas multicores, cantando as suas canções materializadas em vôos, com existência real , mas imperceptíveis. Acreditamos que houve começo, mas não haverá fim.”

FALANDO DE SAUDADE
e de seu autor
AGESÍPOLIS FERNANDES MACIEL

        Entre as imagens de meu pai que nos voltam à memória, nestes longos anos de convívio, é certamente, a do homem envolto em seu casulo de silêncio, com a caneta a deslizar ligeira sobre o papel, tornando eternos os amigos encontrados pelo mundo afora ou revivendo casos antigos trazidos à tona pela ótica da lembrança. Escreve, tem sido para ele, a força a transcender os limites da vida, que, às vezes, se fazem estreitos; as dores que, às vezes, se fazem medonhas. 
        E foi sempre entre livros, jornais e revistas que o encontramos. Sério, de semblante seco e austero, quando envolvido por assunto de seu interesse, nada o fazia desviar a atenção, fascinado e imerso no mundo mágico da palavra. 
        Às vezes, a alegria inundava-lhe o semblante e ele ria sozinho. A luta pela vida, o poder de observação, um mundo interior povoado de sonhos... quem sabe?... Levaram-no cedo, a contar suas histórias publicando-as em jornais de Uberaba e mais tarde de Ituiutaba. E o moço tornou-se homem; mudou de paragens e de trabalho; fez política e criou família. Andou muito, muito conheceu, muito conversou e muito viveu. E, entre trabalho, andanças filhos e netos continuou escrevendo. Agora já são os bisnetos que buscam no seu livro, ora publicado, os fragmentos de vida de seus personagens que refletem um pouco o seu interior — a alma simples, ingênua e amorosa. Mas, não se enganem com seu jeito pacato; conforme o rumo da conversa, pode se tornar rude e a língua ricocheteia dura e áspera mostrando seu lado crítico e temperamental. E seus personagens — histórias reais coletadas nos colóquios pelo sertão descritas e desfocadas pelo tempo, casos e casos ouvidos ao pé do fogo, num beira rio ou encostado a uma parede de pau a pique ,bebendo um café com gosto e fumando mais um cigarro. 
        Falando de Saudade”; e ela está sempre entranhada nas entrelinha, quer falando de Zico Pintado ,do boi Brejeiro ou de sua Uberaba com os velhos amigos. A palavra do escritor não é mero veículo, é a maneira de ver o mundo. Seus personagens presos às suas raízes, mesmo assim se universalizam — é o homem comum encontrado em toda parte, mas único nas suas dores e sonhos. E o animal humaniza-se também, e encontramos o Pequira e o Foguete e os bois de carro envolvidos pelo sentir, num transbordamento poético. “A dor voa mas volta sempre E pousa no meu coração.” Se o lirismo é “a maneira apaixonada, poética, de sentir, de viver a vida” podemos afirmar que o lírico FALANDO DE SAUDADE está carregado de entusiasmo, sentimento e vida.