José Abelardo Barbosa de Medeiros - CHACRINHA

Patrono - Cadeira: 7

Mais conhecido como Chacrinha, nasceu em 30 de setembro de 1917 em Surubim, no agreste de Pernambuco. Ainda na infância mudou-se com a família para Caruaru, também em Pernambuco, e depois, aos 10 anos de idade, para Campina Grande na Paraíba. Aos 15, foi estudar, em regime de internato, no Colégio Marista do Recife, na capital pernambucana. Começou a cursar medicina em 1936 e em 1937 teve o seu primeiro contato com o rádio na Rádio Clube de Pernambuco, ao dar uma palestra sobre alcoolismo. Chacrinha, apesar de sucessivas crises financeiras na família, teve uma infância tranquila.

Início da carreira

Em Recife, ponto de chegada, Chacrinha prosseguiu seus estudos e todos os caminhos pareciam indicar a Faculdade de Medicina para o jovem Abelardo. Não pretendendo passar um ano inteiro no quartel, falsificou a data de nascimento na cédula de identidade e acabou ingressando no Tiro de Guerra. Após esta experiência, foi tocar bateria. Dois anos depois de começar seus estudos de medicina, em 1938, caiu nas mãos de colegas já formados que o salvaram de uma apendicite supurada e gangrenada. Ainda convalescente da delicada cirurgia, ele, como percussionista do grupo Bando Acadêmico, decidiu aos 21 anos, viajar, como músico no navio Bagé rumo à Alemanha. Porém, naquele dia estourou a Segunda Guerra Mundial que agitaria o mundo em 1939 e o fizeram desembarcar na então capital federal, o Rio de Janeiro, onde se tornou locutor na Rádio Tupi. Em 1943, lançou na Rádio Clube Fluminense um programa de marchinhas de carnaval chamado Rei Momo na Chacrinha, que fez muito sucesso. Passou então a ser conhecido como Abelardo "Chacrinha" Barbosa. Nos anos 1950, comandaria o programa Cassino da Chacrinha, no qual lançou vários sucessos da música brasileira como Estúpido Cupido, de Celly Campelo (1942-2003), e Coração de Luto, do artista gaúcho Teixeirinha (1927-1985). E, no Cassino da Chacrinha, ele fingia, com sons e ruídos, que lá aconteciam enormes festas e lançamentos de discos.

Carreira televisiva

Em 1956, estreou na televisão com o programa Rancho de Mister Chacrinha, uma série de faroeste, infanto-juvenil, onde interpretava o papel do xerife, na TV Tupi, na qual começou a fazer também a Discoteca do Chacrinha. Na década de 1960, seu programa foi exibido na TV PaulistaTV Rio e TV Excelsior e, em 1967, foi contratado pela TV Globo. Chegou a fazer dois programas semanais: Buzina do Chacrinha (no qual apresentava calouros, distribuía abacaxis e perguntava "-Vai para o trono, ou não vai?") e Discoteca do Chacrinha. Cinco anos depois voltou para a Tupi. Em 1974, teve uma breve passagem pela TV Record, retornando em seguida para a Tupi. Em 1978, transferiu-se para a TV Bandeirantes e, em 1982, retornou à Globo, onde ocorreu a fusão de seus dois programas num só, o Cassino do Chacrinha, que fez grande sucesso nas tardes de sábado.

Frases e bordões

Uma frase sua que era muito citada afirmava que "Na televisão nada se cria, tudo se copia".Alcançou grande popularidade com os seus programas de calouros, nos quais apresentava-se com roupas engraçadas e espalhafatosas, acionando uma buzina de mão para desclassificar os calouros e empregando um humor debochado, utilizando bordões e expressões que se tornariam populares, como "Teresinha!", "Vocês querem bacalhau?", "Eu vim para confundir, não para explicar!" e "Quem não se comunica, se trumbica!".

Jurados e as "chacretes

Chacrinha entregando aparelho de televisão à vencedora da disputa de melhor calouro da noite.

Os jurados ajudavam a criar o clima de farsa, no qual se destacaram Carlos Imperial (1935-1992), Aracy de Almeida (1914-1988), Rogéria (1943-2017), Elke Maravilha (1945-2016) e Pedro de Lara (1925-2007), dentre muitos outros. Outro elemento para o sucesso dos programas para TV eram as chacretes - dançarinas profissionais de palco, que faziam coreografias para acompanhar as músicas e animar o programa. No início eram conhecidas como as "vitaminas do Chacrinha" e "tevezinhas". Além da coreografia ensaiada, as dançarinas recebiam nomes exóticos e chamativos como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Fernanda Terremoto, Cristina Azul, entre muitas outras.

Cinema

Chacrinha apareceu em vários filmes brasileiros, geralmente interpretando ele mesmo. No filme Na Onda do Iê-iê-iê, de 1966, ele encena seu programa de calouros "A Hora da Buzina", exibido na TV Excelsior. Dentre os calouros, estavam os cantores Paulo Sérgio (como ele mesmo) e Sílvio César (que interpretava o personagem César Silva). Chacrinha diz diversos de seus bordões: "Vai para o trono ou não vai?", "Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?", "Cheguei, baixei, saravei". Há também outras frases engraçadas, quando ele diz que "Graças a Deus o programa acabou". Participou também de Três Colegas de Batina (1962), A Opinião Pública (1967), Pobre Príncipe Encantado (1969) e As Aventuras de um Paraíba (1982).

Carnaval e Morte

Anualmente, lançava em seu programa uma marchinha para o carnaval. Conhecido como Velho Guerreiro, em 1987 foi homenageado pela escola de samba carioca Império Serrano com o enredo "Com a boca no mundo - Quem não se comunica se trumbica", foi a única vez que desfilou numa escola de samba, surgiu no último carro alegórico, que reproduzia o cenário de seu programa, rodeado de chacretes, de Russo (1931-2017; seu assistente de palco) e Elke Maravilha. Em outubro de 1987, recebeu dos professores Annita Gorodicht e Paulo Alonso, o título de "doutor honoris causa" da Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro. Seu aniversário de 70 anos foi comemorado em setembro de 1987 com um jantar oferecido em sua homenagem pelo então Presidente do BrasilJosé Sarney.

Durante o ano de 1988, já doente, foi substituído em alguns programas por Paulo Silvino (1939-2017). Ao voltar à cena, no mês de junho, comandou a atração com João Kléber, até que pudesse se sentir forte novamente.

Chacrinha faleceu no dia 30 de junho de 1988, às 23h30, de infarto do miocárdio e insuficiência respiratória (tinha câncer de pulmão) aos 70 anos. Foi sepultado no dia seguinte.

O último programa Cassino do Chacrinha foi ao ar em 2 de julho de 1988.

Curiosidades

Quando o bacalhau encalhou nas Casas da Banha, seu patrocinador na TV Tupi, Chacrinha arrumou um jeito de reverter a situação. Durante o programa, virava-se para o auditório: "Vocês querem bacalhau?", e atirava o peixe para o auditório, onde a plateia disputava a tapa o produto. As vendas explodiram e ele explicou: "brasileiro adora ganhar um presentinho".

Chacrinha era um dos mais ilustres e notórios torcedores do Vasco da Gama, tendo se apresentado diversas com a camisa do clube. Chacrinha utilizava seu espaço para a promover dirigentes e jogadores do cruz-maltino, bem como para provocar os rivais do Vasco, já tendo falado durante um programa "Flamengo para mim é o pior time do mundo. No Brasil para mim só existe um time, é o Vasco da Gama!” Em 1968, o Conselho Deliberativo do Vasco concedeu o título de Sócio Honorário a Chacrinha. Quando faleceu, em 1988, seu caixão foi coberto por uma bandeira do Vasco e da escola de samba Portela. Em 2017, ano no qual Chacrinha completaria 100 anos de vida, o Vasco prestou uma homenagem ao apresentador, entrando em campo com uma logomarca na camisa com o rosto do comunicador. O termo "Terezinha" não era homenagem a alguma mulher de nome Tereza. O termo surgiu em substituição ao antigo patrocínio de seu programa no rádio, a "Água Sanitária Clarinha". Chacrinha contava que durante seus tempos de rádio, seu programa era patrocinado pela Clarinha, uma marca fabricante de água sanitária. Com a falência da empresa, Chacrinha queria continuar usando o nome, mas não podia. Então na busca por um nome que substituísse a Clarinha, surgiu a Terezinha, que possuía uma sonoridade igual. Foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 2018, com o enredo "Vai para o trono ou não vai".